A experiência contém um aspecto transformativo em que algo deixa de ser como era e passa a existir modificado. Por isso, implica uma perda, visto que não somos mais os mesmos após uma experiência. As perdas norteiam nossas relações com os outros, com os objetos, com nossos ideais. A criança vai um dia caminhar, para isso deixará a segurança dos braços dos seus pais para poder explorar o espaço; o adolescente terá que fazer o luto do corpo da infância; os pais terão que lidar com o crescimento dos filhos e a perda do lugar infantil que eles ocuparam na casa.
No final de ano, nos deparamos com a experiência das perdas, da finitude e transitoriedade, afinal estamos diante do fim de uma etapa e início de outra, de terminar um ciclo e começar outro. QUE TEMPO É ESSE QUE SE FOI? O QUE FOI QUE PERDI NESSE TEMPO QUE SE FOI?
Para sairmos desse ano mais enriquecidos psiquicamente e estarmos abertos ao novo, somos convidados a ressignificar e reconstruir aquilo que vivemos. Isso é o oposto de se colocar à distância, numa espécie de indiferença, silenciamento, buscando não ser afetado pelo que passou. Ao lembrar, trazendo consigo o afeto e integrando o que é lembrado no presente, é possível o trabalho de elaboração. Ao recordar, trazer as lembranças à tona, eu permito que as vivências me afetem e, assim, transformadas em experiências, me tornam mais rica. Eu me aproprio da minha própria história, posso narrá-la, dar sentido ao que vivi e, assim, vou reescrevendo a história, o que me permite novos atos e a projeção de um futuro.
Lembramos 2024 com intensidade para podermos nos separar dele e realizar a travessia para 2025. Começamos o ano mais ricos, uma vez que 2024 nos deixou algo de grande valor simbólico que levaremos adiante.