“Sem trabalho, sem marido, contraída, quebrada”. É assim que a personagem Olga, do livro “Dias de abandono” de Elena Ferrante, descreve a si própria com a idade de 38 anos, após ser deixada pelo marido. Encontramos uma mulher terrivelmente devastada tentando lidar com a perda do casamento. O comunicado aconteceu num dia comum, após o almoço. Assustada e desesperada, Olga se pergunta: “é possível que Mario estivesse me largando assim, sem aviso prévio?”. Acompanhamos em detalhes a condição instável e angustiada de Olga que tinha a mente toda ocupada por Mario, pelas fantasias que fazia sobre ele na nova situação, pelo exame que fazia do seu passado, na tentativa de entender no que ela teria sido insuficiente.
As relações amorosas são permeadas por palavras e, em seu fim, há um benefício em terminarem por meio delas. Tendo em vista que a separação simbólica é de grande importância para o processo de separação, a busca por um sentido à situação vivida é um processo essencial para que a vida seja retomada. Falar sobre uma experiência é um modo de se aproximar dela, recriá-la, para poder se separar. À perda de um relacionamento amoroso acompanham-se outras perdas, uma parte de si vai embora com o outro. Com o trabalho do luto, é possível que a experiência vivida se torne enriquecedora, uma vez que permite descobertas a respeito de si mesmo.
O que Olga perdeu com o término do casamento? Que parte dela partiu com o marido? Olga se questionará, trazendo à tona memórias e sentimentos, recordando sua história. Testemunhamos a dolorosa travessia de Olga em se deixar afetar pelas mudanças para, então, poder ressignificar e reconstruir sua vida.
A Psicoterapia pode contribuir na travessia do luto, uma vez que traz consigo o convite para um trabalho de elaboração psíquica daquilo que se viveu. Vivências podem ser rememoradas e narradas com intensidade para, assim, darem lugar a novas construções simbólicas que enriquecem a experiência e permitem viver o novo de modo diferente.
